Historinhas do Gepeto

                           A m o r    a l a d o               

Amor AdejanteCerta vez, lá pelos idos de 1994, no quintal de minha residência, em Casa Branca-SP, deparei-me com uma pomba diferente, cansada, parecendo estar com sede e com fome. Com uma anilha no pé direito, deveria ser de algum columbófilo que tivesse participado de alguma das provas organizadas pela Federação Paulista de Columbofilia. Ao perceber a minha presença, arisca, voou para o topo do telhado. Como faço costumeiramente, soltei meus pombos para o treino diário. Um dos meus favoritos o Azulão, ainda não tinha dado meia dúzia de voltas e já estava a cortejar a visitante. Altivo e robusto se esforçava para ganhar a simpatia da nova pretendente. Passados dois dias as cenas românticas continuavam. Finalmente, num voo festivo, batendo ruidosamente suas asas, o Azulão e sua amada comemoravam a concretização do primeiro encontro amoroso. Aqueles momentos se repetiram com o calor ardente de uma nova paixão. Como estava às vésperas da prova final, em Brasília, fiquei preocupado com o desempenho do meu Azulão. No dia 22 de outubro aconteceu a grande final de 94, com a participação de pombos da capital e do interior. Após a largada – 7 horas, devido ao tempo chuvoso, meu craque voltou no dia seguinte. Mesmo exausto, surgiu do céu como um bólido e, num pique de cortar a respiração, “aterrizou” no telhado, contrariando sua habitual presteza em adentrar no pombal. O pior havia acontecido. Não resistindo à separação do dia anterior, a sua amada, talvez, à procura do seu pombal de origem e, também, quem sabe, do seu verdadeiro e grande amor, havia partido. Inconformado, o Azulão voltou para o viveiro, triste e desolado! Ah, esses pombos-correio...quanta fidelidade !

 


 

                                                 T r á g i c o   e   i n é d i t o

Neste final do ano de 2012, dentro do meu pombal, por imprudência, acabei por me tornar um homicida culposo. Para melhor entendimento do fato, reporto-me aos tempos de outrora, quando aos domingos, o prato preferido era o famoso frango caipira com polenta. Lembram-se ? Que delícia ! Para chegar às nossas mesas, o frango - parte principal desse saboroso prato -, era caçado no quintal e a querida "mama", com incrível habilidade o segurava pelas pernas e com a mão direita estrategicamente colocada na nuca da "vítima", dava um esticão, destroncando o pescoço do penoso que, escandalosamente, saltitava sem parar, até se estrebuchar, esticando-se todo e, enfim, ficando à mercê da preparoção culinária. A minha história tem muito a ver com esse episódio. Como já disse em outra página deste site, costumo tratar dos meus pombos duas vezes por dia: de manhã e à tarde, lá pelas 16,30 horas. Como todos sabem, existem métodos de condicionar o pombo com os horários de alimentá-los. Com o meu assobio característico, vou entrando no pombal que tem 8 cochos para 130 voadores. Vou abastecendo com a mistura preparada e, cuidadosamente, vou completando os comedouros. Já me encontrava na última etapa quando o inevitável aconteceu. Mesmo sendo excessivamente zeloso, não consegui evitar a tragédia, assim descrita: lentamente, ao mudar o passo, um pombo azul, por trás, entrou sob o meu pé esquerdo e, após ser pisado, começou a saltitar desesperadamente até esticar-se todo no chão. Sem entender o porquê do ocorrido, vendo o belo pombo azul com o pescoço quebrado à semelhança do "frango caipira com polenta", triste e desolado, percebi que acabara de tornar-me um homicida culposo. Não é historinha, realmente, o Pombal do Gepeto foi palco deste fato trágico e inédito.